sexta-feira, 13 de maio de 2011

AOI (6)

CAPÍTULO I - PARTE VI

O vulto que ria

– E ai, você e seu irmão pretendem ir para onde? Humanos em “Terras Lunescas”, como vocês chamam, são bem raros.

– Ah, nós recebemos uma carta de uma família de córons que quer que nós os ajudemos numa tarefa. Acho que eles querem que matemos algum criminoso ou algo assim... – a voz de Will deu a impressão de ficar mais triste.
– Algum problema? – Nestore sentiu a mudança de tom.
– Ah, é que eu nunca... matei ninguém. Eu também gostaria de não matar ninguém, mas se eu falasse isso pro meu irmão e pro meu pai eles ficariam decepcionados... É difícil. – Will olhava para o lado meio que tentando disfarçar seu receio.
– Que frescura! – Nestore era muito frio. – Quanto que os caras vão pagar?
– RS$10.000 mais os custos da viagem até Thyfuna.
– Thyfuna?
– Sim, é lá onde os tais córons moram.
– Coincidência. Eu estava pretendendo ir pra Thyfuna.
– Sério? Podemos ir juntos! Que tal?
– Huh..., – Nestore pensava que não queria viajar com Gill.
– Mas por que quer ir a Thyfuna?
– Huh, eu preferia não falar...
– Ah, fala! É alguma garota? Haha, eu juro que não conto pro seu avô!
– Não é nada disso! – Nestore não queria falar sobre o tema.
– Então me conta! Ah, vai! Conta!
Nestore deu um gole no café e depois um longo suspiro. – Eu... vou contar. Mas se você contar a alguém, qualquer um que seja, eu mato você. – Nestore usou a mesma voz e olhar de antes. Will estremeceu – Jure por sua vida que não vai contar a ninguém. Jure!
– E-eu juro! – gagejou Will levantando a mão em juramento. Pensava o que seria.
– Pois bem, vou contar. – Suspirou de novo e começou – Meu primo é historiador. Ele dá aulas em uma universidade em Quatz-Korah. Eu me interesso muito por história também. E a história que nós aprendemos na escola é que as quatro raças que vivem nesse sistema, Humanos, como você, Luny, como eu, e também Córon e Contano nasceram cada uma em um dos planetas do sistema em que vivemos e que anos depois elas se encontraram e o presidente dos humanos, Baron, propôs o Tratado da União de Quatro que uniria todas as raças em uma única nação que se chamaria República Suprema de Baron. Isso é o que aprendemos nas escolas.
– Ontem, – continuou Nestore – num passeio a Floresta Ruruni a norte da vila, eu encontrei uma caixa de metal velha e enferrujada e dentro tinha um livro. Eu li o livro, o estudei e ele contava uma história. Ele contava a história de civilizações que nasceram uma em cada canto do universo, em galáxias diferentes. Um dia, todas receberam uma mensagem de rádio dos Elix, seres muito evoluídos, para morar nesse sistema. Como seus planetas estavam entrando em colapso, aceitaram e começaram uma viagem interestelar que seria conhecida como A Grande Viagem. O livro relata como fora A Grande Viagem, mas isso não é importante contar.
Nestore baixou o tom de voz e se aproximou de Will. E Will fez o mesmo. – Olha, a conversa tem que continuar em outro lugar. Se você quiser ouvir o resto, nós iremos até minha casa e eu lhe conto e, depois disso, sua vida vai mudar para sempre. Nunca mais vai poder se reverter. Você será meu amigo para muitas viagens. Se quiser, podemos parar aqui e você volta a sua vida normal e nunca mais nos veremos.
Depois de uns nhes de reflexão, Will disse – Huh, claro! Por que não? Nunca entrei numa casa luny, vai ser legal. – Will gostara do convite, mas estranhou. Ele e Nestore caminharam até a Brancazulada enquanto conversavam sobre a história do cannacchi e sobre uma planta terráquea bem parecida.

Nestore pegou o livro e o botou na mesa da biblioteca. – Esse é o livro que eu disse. Agora podemos falar na altura que quisermos, as paredes tem isolamento de som. Olha, não sei quanto a você, mas eu estou farto dessa maldita ditadura! – Will levou um susto com a palavra – Eu sou historiador e sei que há muita coisa que foi escondida pelo desgraçado do tirano do Presidente Kclas e seus antecessores. Mas nesse livro eu descobri que a merda é maior do que eu pensava. A história que nós conhecemos de antes de 3000 anos atrás é uma completa invenção! E essa é a data da “unificação” do país! Isso significa que a história foi modificada e que existe uma gigantesca lacuna de mais de 100.000 anos! Isso significa que a história da Grande Viagem pode ser verdadeira!
Um silêncio pairou pela sala. Finalmente, Nestore continuou. – Eu pretendo viajar até Quatz-Korah que é onde meu primo mora e onde leciona. Vou contar a ele o que estou contando a você agora e resolveremos o que fazer e provavelmente vou a Thyfuna. Se for comigo, terá de abandonar seu irmão. Você topa?
Depois de pensar um pouco, Will tirou a mão do queixo olhou para Nestore com os olhos brilhando e rindo
– Haha, topo!

domingo, 8 de maio de 2011

AOI (5)

Parte cinco postada! Na que parte seis o bagulho começa  ficar bem interessante...

CAPÍTULO I - PARTE V
O vulto que ria

Havia uma cannaccheria perto da Brancazulada a qual todo dia em 30RHA no 2º QHI Nestore tomava um cannacchi e pensava um pouco. Às vezes chamava um amigo, mas geralmente ia sozinho, como nesse dia.
O lugar estava vazio, no domingo as pessoas geralmente não vinham. Então a porta se abre e um vulto entra. Olha ao redor e avista Nestore. Vai até ele e o cumprimenta.
– Oi, eu sou Will, o cara de mais cedo lembra? – disse o garoto.
– Oi. Eu sou... você lembra meu nome? – disse Nestore.
– Haha, – riu Will – Nestore, certo?, posso me sentar?
– Pode. – Nestore olhou com seu olho (o único) para a cara de Will desconfiado.
– O que tem de bom aqui? – perguntou Will olhando pro balcão.
– Numa cannaccheria? Acho que você podia pedir cannacchi. – Nestore era seco e sarcástico o tempo todo.
Will riu – Isso tem gosto de que?
Nestore olhou assombrado para Will. – Você nunca bebeu cannacchi!? – Se virou e chamou o garçom – Fath, rápido! O humano nunca bebeu cannacchi!
– Carambola! Vou trazer um o mais rápido possível! – Fath, o garçom, se apressou em fazer um cannacchi o mais rápido possível. O fez e o trouxe correndo com uma frota de garçons e uns três clientes atrás para ver como o humano reagiria. Todos fizeram um círculo ao redor da mesa, alguns cochichando.
Will estava começando a ficar assustado quando Fath pôs a bebida quente em cima da mesa. Deu um gole. – Argh!, isso é amargo.
Isso causou um baque em todos, inclusive em Nestore. Pareciam ter levado um soco. Aos poucos, o círculo se dissipou com pessoas derrotadas voltando à cozinha ou mesmo indo embora, todas indignadas.
– Hunf, humanos. – disse Nestore pegando sua xícara e tomando mais um pouco.
– Me desculpe. Eu não sabia que vocês levavam isso tão a sério. Que paranóia, haha. – disse Will em tom de brincadeira.
O que você disse? – Nestore ficou tão assustador naquele momento que sua voz mudou de tom para ficar igual à de um demônio.
– Nada, nada! – Will ficou realmente com medo. Imagine uma cara pálida com um tapa-olho vermelho, olheiras e um vasto cabelo azul olhando pra você com a mesma cara do Ceifador Sinistro.
– Cannacchi não é brincadeira para os luny. – Sua expressão voltou ao normal e até pareceu ficar mais corado de novo. – No passado, foi motivo para guerras e grande discórdia.
– Sério? Nossa!, essa bebida deve ser demais mesmo, hein? – Will tentou dar mais um gole, mais não conseguiu resistir.
– Tente botar mais açúcar, humano. – Nestore desprezava a cena ridícula.
– Huh, pode me chamar de Will..., se quiser. – Will ainda se recuperava da expressão ameaçadora.
– Tente botar mais açúcar, Will. – disse Nestore rindo. Ficaram rhas e mais rhas conversando. No dia seguinte, o encontro se repetiu assim como no resto da semana. Encontraram muitas afinidades, riram muito e contaram muito de suas vidas e gostos. Em algum tempo, se tornaram bons amigos e até íntimos um do outro.
Will contou que havia nascido na cidade-grande. Sua família era conhecida e respeitada por ter vários membros no exército, seu pentavô [1], por exemplo, tinha chegado a ser o Marechal Supremo[2]. Seu pai era um General-de-Divisão e pouco se viam. Quem o havia criado e dado toda a atenção era seu irmão Gill e sua mãe Samanta (ou Sammie como a chamavam). Também falou que apesar de gostar muito de Gill, achava ele muito conservador e antiquado.


[1] Pentavô é o avô do avô seu avô. Um neologismo.
[2] É o cargo mais alto do exército da República Suprema de Baron

quarta-feira, 4 de maio de 2011

AOI (4)

CAPÍTULO I - PARTE IV


O vulto que ria


A porta da Brancazulada abre bruscamente tocando o sino acima e acordando Nestore de seus pensamentos. Rapidamente ele bota as anotações dentro do livro e o esconde debaixo do balcão.
– Sim? – Nestore olhava para o homem alto que aparentava ter uns 21 anos e que entrava com um garoto da sua idade, mais ou menos 15 anos na loja.
– Meu nome é Gill. Talvez me conheça como Gill da Lança de Aço. – O homem chamava muita atenção, pois era alto, usava um cabelo alto e portava uma enorme lança. – Esse é meu irmão Will.
– E no que eu posso ajudar? – Nestore nem tentava parecer interessado.
– Ouvi dizer que aqui é a Brancazulada do famoso Ferreiro Ancião?
– Ouviu bem.
– Poderia falar com ele, garoto?
– Não, o velho saiu.
– Então volto mais tarde. – e falou já se virando.
– Espera! Eu não sirvo? Sou neto dele.
– Prazer, senhor... – se virou de volta.
– Nestore.
– Prazer, senhor Nestore!
– Prazer. – disse Nestore já sem paciência. – Qual é mesmo o seu pedido?
– Ah, sim. Gostaria que polisse minha lança. E tome muito cuida...
– São RS$40,00[1], pegue sua lança amanhã. Obrigado e volte sempre! – disse Nestore pegando a lança, interrompendo Gill e o despachando o mais rápido possível.
Gill se virou e foi embora. O garoto que o acompanhava deu uma risada e o seguiu. Nestore soltou um longo suspiro e pegou seu livro de volta. Panddo que estava no banheiro voltou e perguntou o que havia perdido.
– Um cara chato – respondeu Nestore secamente.



[1] O nome da moeda deles é Moedas Republicanas e a sigla é República Suprema. RS$1,00 teria mais ou menos o valor de R$0,50.